1.5.07

E, lá no fundo, ele talvesse quis mesmo que todos morressem

Nasceu num lar confuso, muito confuso, mas sentia-se indiferente a tudo isso. Aquela criança cresceu para se tornar num rapaz e continuou. Progrediu rapidamente pela adolescência e tornou-se num adulto. Durante todos estes anos muita coisa aconteceu na sua vida. O seu nome já não importa porque não pode ser confundido com outra pessoa.

Foi educado como um rapaz normal. Tinha amigos. Não em demasia, apenas os suficientes. Mas tudo mudou quando chegou aos 10 anos. Começou a desenvolver manchas negras nos seus olhos. Cresciam lentamente ao longo dos anos mas, nos locais onde permaneciam as manchas, o rapaz não via. Os médicos ficaram boquiabertos e nem um conseguia diagnosticar ao certo o problema dele. Alguns diziam se tratar de um tipo de cancro extremamente raro, outros diziam tratar-se d eum virus, mas eram mais os que nem um explicação tinham para oferecer.

Aos 15 anos ele perdeu mais de metade da sua visão e foi enviado para uma escola especial por muitas razões. O menos importante foi devido à infindável dor da tortura dos insultos dos seus colegas. A mais importante foi a estranha alteração que a sua inteligência sofrera. Ele dava, por vezes, sinais de uma inteligência extraordinariamente vasta, mas depos havia períodos semanais em que nem se lembrava de uma só palavra. Estudos mais profundos descreviam alterações na sua própria estrutura genética e que, por qualquer razão anormal, não poderia ser afectado por qualquer virus conhecido. Foi contra os desejos dos seus pais, e os seus, que ele se tornou numa cobaia para a ciência, por isso, continuava a sua educação especial.

Os seus olhos estavam completamente negros ainda antes de ter completado os seus 20 anos, mas ninguém na universidade sabia disso devido aos óculos que usavas. Foram-lhes dito que era cego, em maior parte verdade. por esta altura as suas falhas de memória haviam estabilizado e, quando ocorriam duravam apenas horas e não dias. Viveu maioritariamente como um eremita e evitava o contacto humano sempre que podia.

O inverno veio e muitas pessoas iam ficando doentes com o que se julgava ser uma estirpe especialmente resistente de influenza. Tudo isso mudou quando os primeiros cem casos morreram. Depois de um dia de fortes tosses e dores corporais, os órgãos interiores hemorragiam e liquidificavam. As primeiras vítimas surgiram como surpresa, com sangue a sair de todos os orifícios do corpo e, até os olhos eram vermelhos devido às rupturas das veias capilares nelas contidas.

Dentro de semanas milhões foram apagados e não parecia haver espectativa de cura. Os médicos descobriram tratar-se de um virus mas não sabiam como se transmitia. Parecia surgir apenas nas pessoas. O jovem ficou em casa durante essas primeiras semanas. Os cheiros e os sons do mundo eram demasiados para ele, quando todos eram infectados menos ele. As únicas vezes que saia era para procurar comida.

Acordou depois, um dia, num local calmo. O ar continuava nauseabundo mas estava tudo muito mais silencioso. Quase como se as suas orelhas haviam sido cortadas. Saiu e quase que conseguia esquecer o cheiro estagnado, o mundo parecia limpo e tranquilo. Havia uma sensação de calor à sua volta. Ele começou a andar. continuou durante horas apreciando o silêncio. Depois ocorreu-lhe que qualquer coisa podia estar errado. Começou a gritar por todos, mas ninguém respondia. E continuou a gritar. Durante dias talvez. Mas não havia restado ninguém.

A princípio parecia uma dádiva. Nada deixado atrás que lhe podia causar incómodo ou dor, apenas o silêncio das árvores e o vento. Andou até encontrar um pequeno lago no meio de uma floresta e sentou-se à beira da água. Gostava de se sentar e imaginar o seu reflexo nas águas cristalinas. Ficava ali a pensar. Durante horas e horas e depois dias após dias. Começou a compreender as coisas como nunca ninguém tinha compreendido antes. Depressa desejou que estivesse ali alguém, ao seu lado, para poder contar todas as coisas maravilhosas que ia descobrindo. Mas não havia ninguém. E não havia ninguém que o acalmasse a dor.

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