18.6.09

Solidão

Chateado por todos os cantos, com palavras escassamente murmuradas por aqueles que fariam de tudo para se esconderem dele, como se fosse o seu pior inimigo.

Porque todos temem-no? Será que não se aperceberam? Nós nascemos de um oceano de solidão, enfrentamos os nossos demónios sozinhos, toda a vida… e, no fim de toda a vida, saímos do palco. Sozinhos.

A solidão é a nossa mais fiel companheira.

Oh… Sabes disso muito bem e, talvez seja por isso que não a temes… Porque a solidão dá-te a oportunidade de te conheceres mais e melhor - gozando com os teus demónios interiores – tentando fazê-los acordar, pelo simples prazer de te afundares – até ao mais profundo que conseguires – nos pântanos dos teus limites desconhecidos, para ascender outra vez, mais forte.

Às vezes sentes-te assim… Forte. Violentamente poderoso. Como se ninguém nem nada te pudesse travar a busca dos teus objectivos. Como um deus no teu próprio pequeno universo, onde és tu quem dita as regras e apenas tu poderás quebrá-las.

E, subitamente, o caminho vazio que estás a percorrer colide com outro caminho vazio… Dois mundos diferentes tornam-se inter-dependentes, tentando fundir, tentando completar os sonhos um do outro, os pensamentos, os hábitos… as esperanças.

Esperança... Que doença crónica do ser... Como um narcótico que raramente poderás adquirir mas que, ironicamente, se torna terrivelmente viciante.

Uma vez consciente dos seus silenciosos passos em direcção a nenhures, uma vez acreditando nas ilusões, começas a viver o sonho, tentando convencer-te a ti mesmo que talvez – talvez – não estás destinado a terminar sozinho, porque encontraste aquela pessoa especial, aquela peça que faltava, a outra parte da tua alma.

Acostumas-te cedo à imagem de um puzzle completo, até que algo faz com que as peças se misturem de novo e depois, quando tentas reorganizá-las, apercebes-te que a peça mais importante desapareceu, levada pelo vento da mudança. Perdida algures num canto onde não consegues alcançar, mesmo que a consigas ver e tentes o teu melhor para agarrá-la para que não se perca de novo. É escusado.

Outra vez incompleto, ansiando por um significado… começas a gatinhar de novo, sozinho, através do caminho tortuoso… até alcançares mais um cruzamento.

E recomeça o jogo… e mais uma vez… e mais uma outra vez… como uma partida de mau gosto, com a única diferença de que, de cada vez, te convences mais e mais de que não precisas de encontrar aquela peça que te falta. Tentas controlar e dominar aquele grito violento da tua alma que chora e murmura, sedenta mas que, no ímpeto do momento, ignoras sem sequer pensares duas vezes. Porque precisas de ser forte; porque te magoaram e desiludiram demasiadas vezes; porque já não acreditas em sonhos; porque esperança é apenas mais uma palavra no dicionário; porque a solidão parece-te como o caminho mais fácil de te desligares dos mapas complicados da vida. Porque o som da realidade é demasiado ensurdecedor.

Será cobardia? Ou será apenas um espírito a render-se porque se apercebe que, às vezes, a mão do Destino não pode ser forçada? Ou talvez seja apenas a imunidade em lutar contra a dor, materializada nessa máscara teatral, onde escondes as tuas verdadeiras lágrimas e os teus verdadeiros sorrisos, que te afasta e te protege da dor, mas que te prende pelos calcanhares à rocha do isolamento.

Mas agora já não és auto-suficiente. A tua própria companhia já não te é suficiente… porque a tua alma tem sede, implorando por um pingo desse delicioso néctar que provaste da última vez que cruzaste um cruzamento.

Mudaste e nunca deste conta disso: a máscara que tens usado durante tanto tempo cresceu para se tornar parte do teu ser. Por isso já não consegues mostrar a tua verdadeira cara, o teu verdadeiro ser, mesmo que queiras. E, mesmo que tentes descrever as palavras que escondes debaixo dessa máscara, ninguém poderá ver… ninguém irá compreender. És um estranho para todos. Mais estranho para ti mesmo ainda… olhando para o espelho e jamais reconhecendo a cara que costumava estar no lugar da cara que olha de volta para ti, desprovida de sorrisos, lágrimas e marcas…

Curvado, sufocando com o peso dessa máscara, começarás de novo o teu caminho… sozinho. Chorando lágrimas que nunca serão afagadas; assombrado pelos pesadelos que ninguém nunca irá afastar; enraivecido pelos pensamentos tempestuosos que nunca se cessam…

…até chegar a mais um cruzamento.

E lá está ela, de novo, esperando… talvez por ti. Tão bem escondida nos olhos de mais uma alma disfarçada, mas tão óbvia: a esperança.

1 comentário:

angie disse...

Muito bom! Vou passar por aqui mais vezes

 

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